
Palestrantes abordaram inteligência de mercado e gestão de elencos | Foto: Max Peixoto/FGF
O projeto FGF Conecta realizou, na noite desta segunda-feira (27), um workshop com foco no desenvolvimento do futebol gaúcho, abordando o tema crucial de captação de atletas e formação de elenco. O evento contou com a participação de dois nomes que transitam no cenário nacional e internacional do futebol: Alessandro Brito, Diretor de Gestão Esportiva do Botafogo de Futebol e Regatas, e Deive Bandeira, Diretor de Negócios na Eagle Football Holdings (que inclui Botafogo, Lyon-FRA e RWDM Brussels-BEL). Sob a mediação do Prof. Dr. José Cícero Moraes, os convidados compartilharam experiências e estratégias com os participantes e clubes filiados à Federação Gaúcha de Futebol - FGF.
Antes do início da palestra, os convidados foram recepcionados pela diretoria da FGF em um encontro de boas-vindas. Estiveram presentes o Secretário-Geral, Mauro Rocha, o Diretor Jurídico, Gilson Kroeff, e o Diretor de Segurança e Ouvidor Geral de Competições, Rogério Stumpf. A comitiva de recepção também incluiu os professores e coordenadores do projeto FGF Conecta, Ademir Calovi e José Cícero Moraes, e a Coordenadora de Comunicação da Federação, Christiane Matos, reforçando a importância do debate.
O encontro promovido pelo FGF Conecta também contou com a ilustre presença de figuras notáveis do futebol gaúcho, incluindo dirigentes, treinadores e ex-atletas. Entre os presentes, o ex-presidente campeão mundial do Internacional, Fernando Carvalho, e o ídolo e ex-atleta do Grêmio, Lucas Leiva, acompanharam de perto o painel e pontuaram a importância do conteúdo para o aprimoramento da gestão e do desenvolvimento de talentos no futebol gaúcho.
- Alessandro e Deive são profissionais de primeira linha no mercado que conheci quando trabalhavam no Internacional. Ambos podem abordar análise de desempenho, scouting, organização de departamento de futebol, métodos, planejamentos, compliances e controles. Certamente o pessoal que assistiu terá um proveito muito grande, especialmente os jovens profissionais que estão iniciando na militância do futebol - concluiu Carvalho.
- A Federação Gaúcha de Futebol reuniu pessoas de sucesso no futebol. É importante adquirir conhecimento e trocar contatos através de networking à medida que o futebol vai mudando a cada dia - enfatizou Leiva.
VISÃO ESTRATÉGICA: PROFISSIONALIZAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DE ELENCOS
A relevância do tema se destacou pela sua conexão direta com o futuro financeiro e esportivo das instituições. Captação eficiente e gestão inteligente de ativos são consideradas chaves para o sucesso no cenário atual do futebol. Nesse contexto, os convidados trouxeram visões complementares sobre a profissionalização das categorias de base e a otimização dos recursos na montagem dos elencos. A partir de suas experiências, Alessandro Brito e Deive Bandeira destacaram os pilares para construir equipes vencedoras a longo prazo.
CLUBE ASSOCIATIVO X SAF: MODELOS DE GESTÃO EM DEBATE
O painel ganhou um contorno especial ao colocar em debate os modelos de gestão mais relevantes no cenário atual: o clube associativo e a Sociedade Anônima do Futebol - SAF. Ambos os palestrantes trouxeram a experiência de atuar em uma SAF de grande visibilidade, o Botafogo, que faz parte do holding multinacional Eagle Football.
Alessandro Brito, atual Diretor de Gestão Esportiva do clube carioca, tem uma carreira marcada pela atuação estratégica na identificação e análise de atletas, sendo um dos principais responsáveis por estruturar os processos de captação do Botafogo. Com profundo conhecimento em metodologia de scouting, Brito já desempenhou funções de scout no Athletico, Paraná Clube, Internacional, e Atlético-MG, além da atribuição de Head Scout no Botafogo.
Deive Bandeira, por sua vez, possui uma função estratégica, conectando as operações de futebol com a viabilidade econômica e comercial dentro de um modelo de gestão global. Bandeira também já atuou como treinador das categorias de base do Santa Cruz e do Internacional. No Colorado, inclusive, iniciou sua transição para Head Scout e Gerente de Mercado.
- De todos os clubes associativos que eu passei, o que mais me chamou atenção foi a quantidade de pessoas envolvidas no processo. No Internacional tínhamos oito diretores políticos na categoria de base. É uma diferença direta entre um clube associativo e uma SAF, onde só precisamos dividir com uma pessoa, o dono. Todas as tomadas de decisão acabam sendo mais rápidas - explicou Brito.
- Considero que o que impacta na decisão que for tomada é o grande diferencial entre os modelos. No clube associativo, a decisão sempre contém uma análise de como isso será repercutido pela parte externa. Se torna necessário ultrapassar várias barreiras para convencimento de alguma situação e o futebol não costuma esperar. A oportunidade pode nem existir mais quando se obtém êxito para convencer todo mundo. Na SAF, resolvemos com uma ligação - justificou Bandeira.
A CATEGORIA DE BASE E A VENDA DE PROSPECTOS
A palestra migrou para a base, onde reside um dos maiores desafios estratégicos dos clubes: o paradoxo entre o uso do atleta no elenco profissional e o seu retorno financeiro imediato. Os palestrantes analisaram como encontrar o equilíbrio ideal entre desenvolver jovens talentos para que contribuam tecnicamente com o time principal e, ao mesmo tempo, prepará-los para futuras negociações que possam garantir a saúde financeira da instituição.
- Preciso fazer muita força para imaginar um grupo campeão que não teve pelo menos dois ou três jogadores relevantes oriundos da categoria de base. Ela sempre norteou e deu um suporte importante no ponto de vista esportivo e posteriormente no ponto de vista comercial. A categoria de base é a resposta quando nos perguntamos o que fazer para competir com a grande diferença econômica. O suprassumo da formação perfeita é quando conseguimos unir o desempenho esportivo com a futura virtude financeira. Se torna difícil imaginar uma formação somente voltada à área comercial. Vai faltar uma parte final da transição que é a parte competitiva e da exposição. Isso precisa caminhar lado a lado - destacou Bandeira.
DESAFIOS NA CAPTAÇÃO E O OLHAR PARA O MERCADO SUL-AMERICANO
Outro ponto crucial do workshop abordou a dificuldade e a complexidade do processo de captação de atletas na faixa etária infantil. Alessandro Brito enfatizou a necessidade de os clubes adotarem um pensamento de longo prazo, evitando soluções imediatistas. Para isso, o profissional do Botafogo explicou a estratégia de expandir a busca por talentos, citando o olhar voltado a prospectos sul-americanos. Essa visão, que vai além do mercado local, visa identificar jovens com alto potencial de desenvolvimento e retorno, demonstrando a importância de uma rede de scouting ampla e organizada para garantir a sustentabilidade futura do elenco.
- Temos algumas defasagens voltadas à iniciação de captação. Hoje no Brasil, quando identificamos um possível atleta de 9 a 12 anos, esbarramos no dado de que uma a cada três crianças nessa idade são consideradas obesas. Não sabemos se as duas crianças restantes são voltadas à prática de esportes. Isso forma uma cadeia de dificuldades para o processo natural da escolha dos atletas. Também é um dos motivos de buscarmos tantos prospectos sul-americanos. Enfrentamos dificuldades locais e vamos ao mercado continental para tentar encontrar esses espaços e otimizar esses talentos no Brasil. É um processo horizontal de ouvir quem está ao nosso lado para que possamos fazer algo diferente - explicou Brito.
SOBRE O CONECTA
Lançado em 2021, o projeto FGF Conecta visa capacitar os profissionais que atuam nos clubes gaúchos, buscando o aperfeiçoamento dos processos através da troca de experiência com profissionais de alto nível atuantes no futebol nacional e internacional. Os eventos têm como público-alvo técnicos de futebol, preparadores físicos, graduandos e professores de educação física, dirigentes e demais interessados na área esportiva. A coordenação é dos professores Ademir Calovi e José Cícero Moraes.




