A Federação Gaúcha de Futebol - FGF, em parceria com a página Guria Boleira, passa a publicar entrevistas, nas terças e quintas-feiras, com mulheres que fazem a história do futebol feminino e ainda sobre aquelas que exercem sua profissão nos clubes profissionais de futebol. Começamos com Marcia Tafarel, ex-atleta da Seleção Brasileira. Boa leitura!
TAFAREL COMEÇOU EM BENTO E GANHOU O MUNDO COM A SELEÇÃO BRASILEIRA
Atleta de ponta que defendeu a Seleção Brasileira durante seis anos, a ex-meia Márcia Tafarel vive nos Estados Unidos há 13. A ideia era passar um mês, a convite da companheira de seleção Sissi, aprender um pouco do idioma e acompanhar como o futebol feminino acontecia em solo americano. “Aprendi muitas coisas aqui e principalmente aprendi que o trabalho de base para o futebol feminino é encarado seriamente nos EUA. As meninas começam a jogar futebol muito cedo aqui e existem competições para o Sub-9 até o Sub-19. Depois disso existe o NSCAA, que é a competição entre universidades”, explica. Ela lamenta que o Brasil não possa implementar programas de desenvolvimento parecidos com os americanos justamente porque o caos político, a corrupção e a inversão de valores impedem investimentos que poderiam alavancar a modalidade.
Gaúcha de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, Marcia sempre praticou esportes, incentivada pela mãe, para construir valores e ter disciplina. Foi pelas mãos de dona Marlene que Marcia chegou na peneira do time feminino de Bento, cujo treinador era Moacir Agatti, foi aprovada e essa equipe passou a representar o Clube Esportivo Bento Gonçalves no Campeonato Gaúcho, no início da década de 80. “Era uma equipe forte para a época, dávamos muito trabalho para a dupla Grenal e tínhamos competições locais de futsal e torneios no interior”, diz Marcia, acrescentando que a premiação não era apenas troféus, mas até porcos e ovelhas. A exigência da mãe era para que Marcia tivesse boas notas na escola. Além dos treinamentos à noite na quadra do Corpo de Bombeiros, ela gostava mesma era de jogar futebol na rua, “onde as peladas eram sempre muito competitivas”.
Foi quando representou a Seleção Gaúcha numa competição em Campinas que surgiu o convite de Romeu Castro, hoje supervisor de competições femininas da CBF, para que ela integrasse a equipe do Saad. O ano era 1987 e Marcia deixou o emprego na fábrica da Fasolo e escolheu o futebol. No ano seguinte, empregada novamente, ela disse não ao ser convocada para a Seleção Brasileira em 1988 porque não podia deixar o emprego na Fundação Bradesco para disputar o torneio que antecedeu a primeira Copa do Mundo, a da China, e que a tiraria do trabalho por três meses. Convocada para o Mundial, Tafa, como é conhecida, integrou a equipe de 1990 até 1996. “Dali em diante, estive em todas as convocações. Disputei o primeiro Mundial em 91, o segundo na Suécia em 95 e a Olimpíada de Atlanta em 96, além de ter sido bicampeã Sul-Americana – 91 em Maringá e em 95, em Uberlândia”.
Marcia acredita que a profissionalização das atletas é vital para o desenvolvimento da modalidade, defendendo que a carteira assinada dará tranquilidade para a prática do esporte. Diz que há necessidade também de um calendário efetivo, divulgado com antecedência. E aí entra outro ponto essencial, segundo Tafa: ações de marketing que tornem possível que o futebol feminino seja notícia. Também a obrigatoriedade para que os clubes que vão disputar a Libertadores a partir de 2019 tenham equipes femininas vai alavancar a modalidade, acrescentando que “essas competições serão em níveis compatíveis com as equipes que disputam e também com a visibilidade da mídia que abrirá os olhos para o potencial que o futebol feminino trará com competições mais organizadas”.
Aos 50 anos e formada em Educação Física e Ciências Sociais, Marcia Tafarel deixa um recado: “para muitos que cobram resultados do futebol feminino em nível mundial, temos que lembrar que a estrutura dada no Brasil já melhorou, mas ainda não é a ideal. Existem muitas falhas de organização, especialmente no que diz respeito a desenvolvimento de novas atletas. Precisamos melhorar neste ponto se quisermos ter uma pós-geração Marta, com surgimento de novos talentos”.
Crédito Foto: Arquivo Pessoal
Jornalista Izabel Rachelle
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