Única mulher auditora do Tribunal de Justiça Desportiva no Rio Grande do Sul – TJD-RS num universo que abriga 44 homens, a advogada Flavia Zanini tomou posse justamente num 8 de março, data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher. Além da graduação e especialização, Flavia faz atualmente mestrado na área e tem cursos em gestão de clubes e esportes. Antes dela, outras mulheres passaram pelo Tribunal, como Terezinha Irigaray e Laci Ughini, esta última uma das precursoras no Direito Desportivo, que morreu há oito anos, quando exercia a vice-presidência da entidade.
A rotina no tribunal, conta Flavia, começa a partir das denúncias feitas pela Procuradoria que, depois de aceitas, são encaminhadas às comissões, pautadas e julgadas, cabendo recurso ao Pleno. Recorda que, na primeira sessão em que atuou, “fiquei muito feliz por poder absolver o técnico do São José, que no ano de 2016 fora eleito melhor técnico do Campeonato e, no ano seguinte, seu time lutava para não cair de divisão. Caso tivesse sido punido, talvez o time não tivesse conseguido permanecer na primeira divisão”. Flavia diz da importância de escutar os réus, as defesas, a acusação, assistir aos vídeos e aos colegas e muitas vezes mudar de opinião.
Mesmo sendo a única mulher no Tribunal, Flavia assegura que não há preconceito, que foi acolhida pelos colegas, tendo sempre o maior apoio dos presidentes do TJD e da FGF. Confidencia que, nas primeiras sessões, “a Procuradoria teve o cuidado de passar as denúncias da forma mais clara possível, sempre com competência ímpar “. Conta que, mais tarde, integrou o grupo que elaborou a atualização do Regimento Interno, representando os auditores. “Os casos mais polêmicos da minha comissão, no ano passado, foram a possível agressão do então técnico do Inter ao médico do Caxias – foi de minha relatoria, mas houve transação disciplinar, e o caso do clube Bagé, que gerou muita polêmica sobre sua exclusão ou não do campeonato.
VIDA NO FUTEBOL
Filha de Alfredo Oliveira, o Carioca, que era vice-presidente do Grêmio Football Porto-Alegrense quando morreu, em 2010, Flavia cresceu no meio do futebol. Conta que sempre foi ao estádio, mesmo quando visitava familiares no interior do estado, no município de Lagoa Vermelha, não perdia nenhuma partida de futsal. Mais tarde, quando mudou para o Rio de Janeiro, assistia a partidas de toda as equipes. Hoje, Flávia costuma assistir aos jogos na Arena do Grêmio, cuja rótula de entrada leva o nome de seu pai.
Também o marido de Flavia trabalha no futebol. “Quando conheci meu marido ele estava em trânsito de clubes, já tinha sido médico do Grêmio durante 17 anos, do Juventude, do Desportivo Brasil e, depois de nos casarmos foi contratado pelo Inter, então passei a ir nos jogos do Beira-Rio também”. E foi justamente nessa época, lembra Flavia, como seu marido trabalhou muito tempo no Controle de Doping, que “acabou surgindo minha paixão por este assunto que acabou sendo tema de dois artigos que estou escrevendo e dos estudos de minha Dissertação de Mestrado”.
No TJD, explica Flavia, “um auditor pode ser reconduzido uma vez, os mandatos são de quatro anos e, depois disso, pode compor o Pleno, se seu nome for indicado”. Seus planos, diz, são aqueles que o Desportivo me reservar, “tenho três filhos e moro meia semana em Porto Alegre e meia em São Paulo, então tenho administrado meu tempo, declinando alguns convites que me são feitos fora desta ponte aérea”.
Os temas do Direito Desportivo, complementa, são dinâmicos e apaixonantes. “Todos os dias surgem desafios e discussões, tais como regulamentações de e-sport, times atuarem com transexuais, árbitros de vídeo serem ou não utilizados e muitos mais que nem imaginamos, virão”. Flavia assegura que o campo de trabalho é vasto para quem pretende estudar ou atuar no meio.
Izabel Rachelle
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Foto: Arquivo Pessoal