UNIVERSIDADE DISCUTE ASSÉDIO A MULHERES NO FUTEBOL
A sala de aula da Fabico – Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do RS – UFRGS ampliou os horizontes no dia três de maio quando ganhou um dos auditórios do prédio e promoveu debate, dentro da disciplina de Jornalismo Esportivo, da professora Sandra de Deus, entre mulheres que trabalham no futebol. De camisetas pretas, com a inscrição #deixaelatrabalhar, Kelly Costa (RBS TV), Débora de Oliveira (SBT), Renata de Medeiros (Rádio Gaúcha) e Danielle Della Passe, cujo TCC abordou a presença feminina nos programas esportivos de televisão, tiveram a conversa mediada pela estudante de Jornalismo Julia Viegas.
As histórias e trajetórias profissionais das quatro mulheres convergem para um ponto comum: o assédio no dia a dia, enquanto jornalistas esportivas. Duas delas, Kelly e Renata, sofreram violência nos estádios há pouco tempo e o caso de Renata, juntamente com o da carioca Bruna Dealtry, foi a gota d’água para o lançamento do movimento #deixaelatrabalhar, cujo vídeo, com depoimentos de várias mulheres, foi apresentado na abertura do evento.
Danielle trouxe dados de seu trabalho de conclusão dando conta que, apesar de haver mais mulheres trabalhando no meio esportivo, os homens ainda têm mais espaço. A pesquisa foi sobre 19 programas de Record, Band, SBT e RBS, durante uma semana. “As pessoas ainda se surpreendem com o fato da mulher gostar de futebol”, avalia.
Débora está na estrada há 19 anos, começou na Rádio ABC de Novo Hamburgo, passou pela Band, RBS e está há cinco anos no SBT. Garante que escolheu o futebol antes de escolher o Jornalismo. Débora acredita que a presença feminina é um incômodo, mas dispara “quem disse que o espaço era deles?”. Acrescenta que as mulheres dão trabalho porque dedicam-se, “não somos picolé de chuchu na redação”.
Kelly, 27 anos, na RBS há três, começou na TV Pampa. Protagonizou dois episódios de assédio público num curto espaço de tempo: em julho do ano passado, numa coletiva de imprensa com o então treinador do Sport Club Internacional, Guto Ferreira, após formular sua pergunta, ouviu do técnico que ela não tinha jogado bola, então não ia responder; em março, em partida semifinal do Campeonato Gaúcho, foi ofendida por um torcedor no Estádio Passo D’Areia, em Porto Alegre. Conta que, na redação, muitas vezes prefere consultar o Google ao invés de perguntar para os colegas, “temos que nos blindar o tempo inteiro”.
A caçulinha do grupo, Renata, 24 anos, depois de ofendida verbalmente por um torcedor durante um Grenal no Estádio Beira-Rio, foi fisicamente agredida e registrou boletim de ocorrência. Diz que há muita pressão, como se as mulheres tivessem que saber de tudo e que incomoda quando escuta expressões como ‘toque’ ou ‘olhar’ feminino, referência às profissionais como musas ou fulana está ‘desfilando’ no estádio.
Izabel Rachelle
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